sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


É preciso dizer uma flor
uma flor viva para os que procuram
Tem qualquer coisa de incompleta nesses olhos
qualquer coisa que não toca o chão
de quem procura um tesouro nas utopias
de quem sente envergonhado
É preciso dar-lhes esperança
uma esperança real e que tenha nome
e que em todos os lugares possa ser alguém
como um sentimento em busca de uma pele
É preciso dizer...
É preciso acreditar que se pode...
É preciso dentro...
para construir...
construir algo de puro amor!...




 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Quero a linguagem suja das putas pobres, do bêbados solitários, da mulher que junta lixos no chão das calçadas, das pessoas cansadas que respiram no fim da tarde à luz da última lâmpada. Quero a linguagem da mulher que se enfeita delicadamente com os restos que encontra no caminho.


Que gosto você quer sentir hoje?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O homem cheira seu colo e diz:
- Humm... cheiro a rosas...
Ela olha em seus olhos e responde sorrindo:
- Eventualmente, pode até morrer alguém.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Pessoas são labirintos de rios

Ninguém o viu subir na tarde plasmada, ninguém viu a bicicleta enferrujada sumindo em direção ao céu. Porém, com poucos dias, ninguém ignorava sua presença. Todos sabiam que a criança de calças vinha lá de baixo, onde a rosa dos ventos não alcança. Saia da vila onde as águas estão mais acima da terra e as montanhas são assustadoras planícies cheias de junco, onde a língua é apenas a que se fala, e onde as pessoas ainda não transmitem doença no amor.
Ao chegar, a criança olhou em volta e beijou a areia grossa, respeitando a altura da grande duna. Lá em cima é um lugar onde muitos ventos já passaram para fazer a volta, onde o mar é um sussurro de poemas abertos. Sabia que era o lugar de que necessitava, que os outros caminhos haviam se escondido para que ali chegasse e cumprisse seu propósito.
À noite, enquanto descansava, acordou com o grito de um pássaro e viu sob a luz da lua crescente rastros de pessoas descalças que cuidavam de seu sossego assim como temiam seus sonhos. Sentiu o frio do medo e se tapou com areia, em um buraco de mãos pequenininhas.
O propósito que o guiara não era impossível, mas o empurrava para fora da vida. Queria atirar-se lá do alto para poder impor a si a realidade. Esse desejo havia tomado por inteiro sua jovem alma, não voltaria mais para casa.
Agradava-lhe o lugar porque era o mínimo de mundo que precisava.
No princípio dormia pouco, depois começou a buscar noites tranqüilas. Seu consolo era sonhar.
Primeiramente, sonhou com a família que deixou para trás. Viu a mãe sentada ao centro da imagem e os irmãos com o olhar circunspecto ao lado. Depois sonhou com os amigos. Lembrou de quando uma amiga, na primeira vez que o viu, perguntou se podia brincar. Recordou das mãos sujas de barro entre os dedos de quando faziam piquenique com frutas da mãe.
Tudo isso passou por sua memória sem lhe afastar o objetivo. Ao longo dos dias recebia a visita de uma gaivota que parava a uns metros e olhava-o numa silenciosa conversa da natureza com o menino, cada vez mais magro.
Passado mais um tempo, a lua mudou, foi-se o vento sul e o mar recuou um pouco. Mas a duna era de uma realidade fantástica, seguia as águas em seus movimentos.
A criança sentiu um medo precoce da vida e com o suicídio embutido na alma correu para o abismo azul. O mar o engoliu rapidamente e levou junto a duna de areias mágicas.
O que viram seus olhinhos abertos quando caiu? Será que trancou a respiração? De que mundo fugiu? Será que levou consigo seus pensamentos?
As pessoas que o seguiram não entenderam porque morre assim uma criança.


....otro estaba soñándolo.

Os viajantes sem pacotes perambulam atrás de doações. Não sabem que andam em lugares miseráveis sem coisa alguma a oferecer.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Não passes caminhante, que pisas em mim e nem percebes! Não toques descuidado! As coisas caem o tempo todo e nem se quer podes senti-lo. Mas diz, como te chamas? Foi uma memória que te trouxe aqui? A falta de alguma coisa? Um som nunca antes ouvido? Procuras algo? Conhecido ou desconhecido? Quem pode ser assim tão... ? A teus olhos faltam algo. O que é? Deixa ver. É sabido. Não tens a linha do coração. Olhos bonitos. Formosos. Na tua idade não se precisa de céu. As coisas caem e nem estás para ver. É correnteza forte. Não se volta com pressa. Nada muda. Impassível ai, como um surdo contemplativo. Mas aqui não passas. Aqui é o fim. O frio que vai na direção do norte. Mas e então? Era o que esperavas? Para onde ir agora? O silêncio aqui é cheio de vento. A curva da rua leva para trás de você. Poderias acender um cigarro. Mas eu sei, nada a fazer. Diz caminhante, o que pensas agora? Esquecestes alguma coisa nos lugares de antes? O que foi perdido? Te lembras? As coisas estão confusas. Os bolsos vazios da calça não trazem nada. Não há imagens de crianças brincando na praça em frente a casa. Não há mulher nenhuma te esperando. O frio no corpo inteiro. É como as coisas são. Cada lugar tem seus destinos. Cada passo que deu serviu para chegar onde não conhecias. Há flores por todos os lados, mas não tem volume a voz da tua memória. O teu silêncio diz dos teus bolsos vazios. O corpo na parede, a cabeça para trás.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quem sabe onde nos leva isso tudo?

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Não saber para não contar o que não se pode saber. O segredo é um fingimento escondido no canto do mundo.
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O mar abriu-se diante mim em uma água fria. Como em um livro aberto, uma superfície imensa de luz sob o sol embala as minhas pálpebras embriagadas de sono. Há uma brisa estranha. O ar parou no tempo. Tenho alguma consciência. Estou imóvel com os pés que nem vejo na areia. A água me toma o tronco. A cabeça  flutua na paisagem. Água por todos os lados. O corpo esqueceu-se de si. Flutuo. O mar emudeceu. Silêncio.  O mundo parou. Os ouvidos fecham-se em seus caixões. Flutuo. Mais uma vez. É frio. É frio. É frio o abismo no ventre do mundo. A correnteza me leva. Não há resistências. Não há por que resistir.  O corpo gelado. O céu até as bordas da vista. A profundidade de não tocar o chão. O chão está perdido para a pele. Um edifício inteiro foi inundado.  Também  ele não pode ser tocado. Não pode. Tudo isso acontece. Tudo isso. Mas porque ainda estou aqui? Porque ainda tenho os pés fincados na areia? Porque não posso contar? Porque estou sozinha diante do mar? Nada muda. O ar corre em silêncio e sem cor. Não há sonho quando se está acordada. E a verdade? A cabeça arqueia para trás de si. É lá. É aqui atrás que as imagens estão. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Ninguém ouve o que ainda está por ser dito

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Não se tem aquilo que não se pode possuir


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 A saudade é um homem que vaga sozinho em um lugar desconhecido. Não sabe seu nome nem conhece seu rosto. Quando encontra uma poça de água no deserto ignora o fato de que é possível atravessar o passado. Não sabe do tempo que anda, nem de quem recorda seu corpo.

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O exterior é bem próximo quando pega em minha mão

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 Sabe o pássaro a cor da pena que tem?

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Tenho fome de uma coisa que não existe

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O futuro é bem próximo daqui