terça-feira, 30 de agosto de 2011

O homem cheira seu colo e diz:
- Humm... cheiro a rosas...
Ela olha em seus olhos e responde sorrindo:
- Eventualmente, pode até morrer alguém.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Pessoas são labirintos de rios

Ninguém o viu subir na tarde plasmada, ninguém viu a bicicleta enferrujada sumindo em direção ao céu. Porém, com poucos dias, ninguém ignorava sua presença. Todos sabiam que a criança de calças vinha lá de baixo, onde a rosa dos ventos não alcança. Saia da vila onde as águas estão mais acima da terra e as montanhas são assustadoras planícies cheias de junco, onde a língua é apenas a que se fala, e onde as pessoas ainda não transmitem doença no amor.
Ao chegar, a criança olhou em volta e beijou a areia grossa, respeitando a altura da grande duna. Lá em cima é um lugar onde muitos ventos já passaram para fazer a volta, onde o mar é um sussurro de poemas abertos. Sabia que era o lugar de que necessitava, que os outros caminhos haviam se escondido para que ali chegasse e cumprisse seu propósito.
À noite, enquanto descansava, acordou com o grito de um pássaro e viu sob a luz da lua crescente rastros de pessoas descalças que cuidavam de seu sossego assim como temiam seus sonhos. Sentiu o frio do medo e se tapou com areia, em um buraco de mãos pequenininhas.
O propósito que o guiara não era impossível, mas o empurrava para fora da vida. Queria atirar-se lá do alto para poder impor a si a realidade. Esse desejo havia tomado por inteiro sua jovem alma, não voltaria mais para casa.
Agradava-lhe o lugar porque era o mínimo de mundo que precisava.
No princípio dormia pouco, depois começou a buscar noites tranqüilas. Seu consolo era sonhar.
Primeiramente, sonhou com a família que deixou para trás. Viu a mãe sentada ao centro da imagem e os irmãos com o olhar circunspecto ao lado. Depois sonhou com os amigos. Lembrou de quando uma amiga, na primeira vez que o viu, perguntou se podia brincar. Recordou das mãos sujas de barro entre os dedos de quando faziam piquenique com frutas da mãe.
Tudo isso passou por sua memória sem lhe afastar o objetivo. Ao longo dos dias recebia a visita de uma gaivota que parava a uns metros e olhava-o numa silenciosa conversa da natureza com o menino, cada vez mais magro.
Passado mais um tempo, a lua mudou, foi-se o vento sul e o mar recuou um pouco. Mas a duna era de uma realidade fantástica, seguia as águas em seus movimentos.
A criança sentiu um medo precoce da vida e com o suicídio embutido na alma correu para o abismo azul. O mar o engoliu rapidamente e levou junto a duna de areias mágicas.
O que viram seus olhinhos abertos quando caiu? Será que trancou a respiração? De que mundo fugiu? Será que levou consigo seus pensamentos?
As pessoas que o seguiram não entenderam porque morre assim uma criança.


....otro estaba soñándolo.

Os viajantes sem pacotes perambulam atrás de doações. Não sabem que andam em lugares miseráveis sem coisa alguma a oferecer.