quarta-feira, 25 de julho de 2012

No altar

Ela
oferece no altar seu coração vazio
a face cheia de medo
os olhos baixos
sem força
Atrás de si o passado feliz de moça
carregando arrastada pelos viés da memória a inocência de quando usava qualquer saia
de qualquer tamanho
e cor
Naquelas mãos fracamente erguidas cabem todas suas histórias tristes
de sonhos idos embora pela porta da frente
enquanto
ela
preparava o chá para o ilustre convidado
lhe sorria
olhava
franzia os ombros
olhava
tocava partes de alcançar coisas
envergonhava
olhava
sorria
bebia um gole
sorria
olhava
tocava partes de alimentar o corpo
O chá sobrava na xícara
e ele
lhe fazia promessas tão bonitas que ela nem ouvia
nem lhe cabiam
nem lhe sumiriam um dia

Passados muitos anos
o chá já frio em cima da mesa
viu que ficava sozinha
a pele flácida mexendo a xícara
ajeitando a mesa
Na janela árvores grandes
que nem viu crescer
olha para o vidro e vê no reflexo de si
um tempo longo que passou
e nem viu
mas o vento frio da vida
levou-lhe coisas importantes
assusta-se
leva a mão ao peito em movimento de esvaziar-se
o ar sai
e ela
corre para o altar
onde deseja depositar seus sonhos
para que dê frutos grandes e doces

É tarde
tudo está tão vazio
chora
um lágrima seca cobre o rosto já sem viço
uma saia longa comprida toca o chão
ela sai
sem força

Todos os chás já estão frios

Na rua
árvores enormes assistem a tudo
sua passagem
devagar e calma
para lugar algum

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


É preciso dizer uma flor
uma flor viva para os que procuram
Tem qualquer coisa de incompleta nesses olhos
qualquer coisa que não toca o chão
de quem procura um tesouro nas utopias
de quem sente envergonhado
É preciso dar-lhes esperança
uma esperança real e que tenha nome
e que em todos os lugares possa ser alguém
como um sentimento em busca de uma pele
É preciso dizer...
É preciso acreditar que se pode...
É preciso dentro...
para construir...
construir algo de puro amor!...




 

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Quero a linguagem suja das putas pobres, do bêbados solitários, da mulher que junta lixos no chão das calçadas, das pessoas cansadas que respiram no fim da tarde à luz da última lâmpada. Quero a linguagem da mulher que se enfeita delicadamente com os restos que encontra no caminho.


Que gosto você quer sentir hoje?