No altar
Ela
oferece no altar seu
coração vazio
a face cheia de medo
os olhos baixos
sem força
Atrás de si o passado
feliz de moça
carregando arrastada
pelos viés da memória a inocência de quando usava qualquer saia
de qualquer tamanho
e cor
Naquelas mãos
fracamente erguidas cabem todas suas histórias tristes
de sonhos idos embora
pela porta da frente
enquanto
ela
preparava o chá para o
ilustre convidado
lhe sorria
olhava
franzia os ombros
olhava
tocava partes de
alcançar coisas
envergonhava
olhava
sorria
bebia um gole
sorria
olhava
tocava partes de
alimentar o corpo
O chá sobrava na
xícara
e ele
lhe fazia promessas tão
bonitas que ela nem ouvia
nem lhe cabiam
nem lhe sumiriam um dia
Passados muitos anos
o chá já frio em cima
da mesa
viu que ficava sozinha
a pele flácida mexendo
a xícara
ajeitando a mesa
Na janela árvores
grandes
que nem viu crescer
olha para o vidro e vê
no reflexo de si
um tempo longo que
passou
e nem viu
mas o vento frio da
vida
levou-lhe coisas
importantes
assusta-se
leva a mão ao peito em
movimento de esvaziar-se
o ar sai
e ela
corre para o altar
onde deseja depositar
seus sonhos
para que dê frutos
grandes e doces
É tarde
tudo está tão vazio
chora
um lágrima seca cobre
o rosto já sem viço
uma saia longa comprida
toca o chão
ela sai
sem força
Todos os chás já
estão frios
Na
rua
árvores
enormes assistem a tudo
sua
passagem
devagar
e calma
para
lugar algum
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